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BBB24: por que brasileiros são tão fascinados por reality shows?

Foto do escritor: João FalangaJoão Falanga

Atualizado: 6 de jan. de 2024


BBB24
Os atuais participantes do BBB24 divulgados até a presente data de publicação

No ar pela TV Globo há duas décadas, o programa passou por diversas alterações para se manter vivo na grade e já se tornou o reality mais longevo do país. Seu sucesso é inegável e mesmo quem não o assiste regularmente sabe quando está no ar.


Matéria aqui.


A vigésima quarta edição do Big Brother Brasil, BBB24, fez sua estreia nesta segunda-feira (08/01). Antes mesmo da transmissão do episódio inaugural, o programa já havia mobilizado multidões nas plataformas de redes sociais, incendiando debates acalorados sobre os participantes. Consolidado na grade da TV Globo há duas décadas, o programa passou por metamorfoses diversas para manter-se vibrante, tornando-se o reality show mais duradouro do país. Seu êxito é incontestável, sendo reconhecido mesmo por aqueles que não o acompanham regularmente, assim que vai ao ar.


A Fascinação do Big Brother Brasil


Na edição de 2021, o programa alcançou uma média diária de 39,8 milhões de espectadores e quebrou o recorde de maior participação em sua história, com 3,6 milhões de votos por minuto. Embora não tenha superado o recorde de audiência da televisão brasileira, pertencente à novela 'Selva de Pedra' de 1986, seu desempenho impressiona diante da vasta oferta de produtos de entretenimento disponíveis nos dias de hoje.


O sucesso atual do reality show brasileiro se torna ainda mais impressionante ao ser comparado com as versões estrangeiras do mesmo formato. A última edição do Big Brother nos Estados Unidos, por exemplo, registrou uma audiência máxima de 3,33 milhões de pessoas, enquanto a versão alemã encerrou com uma média de 890.000 telespectadores em 2020.


O Enigma do Big Brother: Um Fenômeno Brasileiro


Mas afinal, qual é a razão pela qual os brasileiros são tão cativados por esse programa de realidade? Diversos estudiosos das áreas de comunicação, marketing e psicologia já se debruçaram sobre esse gênero televisivo, no qual pessoas comuns ou celebridades vivenciam seu cotidiano e enfrentam desafios específicos. Todos eles concordam que a principal explicação para a atração gerada reside na identificação com os participantes.


'Pessoas como Nós'


Uma pesquisa conduzida pelo professor de Psicologia Jonathan Cohen, da Universidade de Haifa, em Israel, revelou que os telespectadores de reality shows desenvolvem intensos sentimentos de empatia pelos participantes, frequentemente se reconhecendo em suas escolhas e ações. O experimento entrevistou 183 pessoas sobre 12 programas de realidade diferentes, incluindo produções com versões em diversos países, como Big Brother, MasterChef e Supernanny. Os resultados evidenciaram que quanto mais as pessoas apreciam um programa, maior é a identificação e o desejo de um dia participar do mesmo.


"No passado, muitos presumiam que o interesse pelos reality shows estava associado a uma espécie de voyeurismo, ou gosto por testemunhar situações de humilhação e dificuldade", afirma Cohen. "No entanto, pesquisas mais recentes mostram que os telespectadores se enxergam nas situações vividas pelos participantes, torcendo por eles e compartilhando o entusiasmo da competição."


Segundo Cohen, os reality shows às vezes superam as peças de ficção justamente por serem obras da vida real. "O fascínio está exatamente no fato de serem pessoas reais, enfrentando riscos reais e experimentando emoções reais", explica. "É difícil assistir às provas e desafios sem imaginar como nos sairíamos no lugar dos participantes."


"As pessoas têm a tendência de se projetar naqueles participantes com os quais mais se identificam", observa Mariana Munis, professora de Marketing e especialista em Comportamento do Consumidor da Universidade Presbiteriana Mackenzie Campinas. "Por essa razão, os competidores mais carismáticos e autênticos acabam se transformando quase como fenômenos." As últimas edições do Big Brother Brasil adicionaram um elemento extra ao jogo com a inclusão de celebridades entre os "brothers". "Para os fãs daquele artista ou influenciador, é uma oportunidade única de ver seu ídolo em situações cotidianas", avalia a especialista.


Herança Brasileira


Entre os brasileiros, há também um elemento de tradição que contribui para o sucesso dos reality shows. O primeiro programa do gênero produzido e exibido no país foi lançado pela MTV em 2000 e chamava-se "20 e Poucos Anos". A atração, que mostrava a vida efervescente de jovens no início da vida adulta, perdurou por três temporadas. No mesmo ano, a TV Globo lançou o programa "No Limite", inspirado no americano Survivor.


A emissora ainda adquiriu os direitos para produzir a versão brasileira do Big Brother, que deveria estrear como o primeiro reality de confinamento do Brasil. Poucos meses antes do lançamento, no entanto, o SBT saiu na frente com "Casa dos Artistas". Mas muito antes de qualquer rivalidade entre canais de televisão, os brasileiros já haviam sido conquistados pelo entretenimento baseado na imprevisibilidade e na antecipação.


A paixão pelos programas seriados, cujos capítulos são exibidos aos poucos, remonta aos folhetins. As histórias de ficção e romance publicadas de forma parcial e sequenciada em jornais e revistas de todo o país atingiram seu auge de popularidade no final do século XIX, servindo de inspiração para as rádio e telenovelas.


"Os realities conservam um elemento que era central aos folhetins e que também foi herdado pelas novelas, que é a imprevisibilidade", destaca Elmo Francfort, pesquisador da televisão brasileira e professor do curso de Rádio, TV e Internet da Universidade Anhembi Morumbi. "Os brasileiros foram capturados pelos sentimentos de curiosidade e antecipação gerados por esse gênero, adorando torcer pelos personagens, sejam eles fictícios ou reais."


Elaborados para Encantar


Para além de qualquer fascínio ou tradição, as emissoras televisivas utilizam e abusam de técnicas de marketing para atrair telespectadores. A fórmula do sucesso, fundamentada em boas narrativas, um elenco diversificado e ampla propaganda, torna difícil resistir às espiadelas.


"Tudo no processo de produção de um reality show é meticulosamente planejado para atender às necessidades e desejos do consumidor", explica a professora Mariana Munis. "As provas devem ser emocionantes, os participantes precisam ser pessoas muito distintas entre si para provocar conflitos, e até mesmo a duração do programa é cuidadosamente planejada para proporcionar uma história envolvente, com começo, meio e fim." Para as redes de televisão, o formato também costuma ser uma aposta certeira e econômica.


"É mais econômico produzir um reality do que uma novela, na qual se gasta muito com atores, cenários e edição", afirma Elmo Francfort, da Universidade Anhembi Morumbi. "Além disso, os programas geralmente seguem a mesma fórmula em todas as edições, garantindo uma previsibilidade de sucesso."


E se, no passado, muitos reality shows eram considerados frívolos e uma perda de tempo, esses programas conquistaram mais credibilidade ao abordarem temas de relevância social. O Big Brother, em particular, provocou debates intensos em suas últimas edições, impulsionando sua audiência. Através de atitudes controversas dos participantes, alguns deles acusados de machismo, racismo e xenofobia, as redes sociais foram inundadas por textos e vídeos que contribuíram para manter a população mais informada.


A própria Globo reconheceu a importância dessas discussões, dando-lhes mais visibilidade, enquanto abandonava práticas e segmentos que sexualizavam algumas das participantes. "O público passou a encarar o programa de forma diferente graças a esses debates. Ao mesmo tempo, telespectadores mais jovens e não habituados à televisão aberta foram atraídos", avalia Francfort.



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